quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Propagação de Árvores Frutíferas

Goiabeira

A goiabeira (Psidium guajava L.) pertencente à família Myrtaceae é originária da América Tropical, possivelmente entre o México e o Peru, onde ainda pode ser encontrada em estado silvestre. Pela sua capacidade de dispersão e rápida adaptação a diferentes ambientes, pode ser encontrada hoje tanto em áreas tropicais como subtropicais.

No Brasil, o estado de São Paulo destaca-se como principal produtor com a produção ocorrendo o ano todo, pelo uso da irrigação, poda, adubação e variedades que possibilitam a produção de frutos com dupla aptidão, tanto para indústria como para o mercado de fruta fresca.
Para se propagar uma planta de goiabeira o método mais utilizado é a estaquia.
O roteiro a ser seguido para a produção dessas mudas inicia-se com a escolha da planta matriz (Figura 10 a). O produtor deve optar por uma planta que represente a variedade que ele quer propagar, por exemplo, goiaba de polpa vermelha ou de polpa branca. Além disso, esta planta deve estar livre de pragas e doenças, ser produtiva, os frutos devem apresentar boa qualidade e as plantas devem estar bem nutridas e não apresentar déficit hídrico.
Escolhida a planta matriz, os ramos a serem coletados serão os situados na porção mediana da copa, ainda herbáceos, de coloração verde, sem sinais visíveis de lignificação. A coleta dos ramos, com tesoura de poda deve ser realizada preferencialmente nas primeiras horas do dia, quando a temperatura está mais amena, para evitar a perda de água.
Então se inicia a etapa de preparação das estacas (Figura 10 b, c, d, e). Geralmente utiliza-se a porção terminal dos ramos, desprezando a muito flexível, deixando as estacas com dois a três pares de folhas (2 a 3 nós) e cerca de 15 cm de comprimento. No ápice, deve-se manter um par de folhas, totalmente expandidas, e, na base, deve ser feito um corte em bisel, de forma a evitar desidratação e ressecamento dos tecidos. O restante das folhas deverá ser retirado. Após o preparo, as estacas deverão ser colocadas em recipientes, que podem ser bandejas de plástico cheias de substrato (Figura 10 f). A vermiculita, de textura média é considerada um excelente material por suas características de manter a estaca na mesma posição e lugar durante o período de enraizamento; fornecer umidade e aeração suficientes à base da estaca, apresentar boa capacidade de retenção de água, possuir drenagem satisfatória e ser livre de patógenos. Nessa fase é importante que a estaca não seja colocada em posição invertida.
Como a capacidade de enraizamento das estacas pode variar de acordo com as espécies e/ou cultivares, dependendo da cultivar que esteja propagando, o viveirista poderá utilizar ou não reguladores vegetais, ou seja, produtos com ação auxínica que favoreçam o enraizamento, tais como AIB (ácido indolbutírico), ANA (ácido naftalenoacético), entre outros. 
A última etapa é a colocação das estacas numa câmara de nebulização intermitente, que permite a emissão de pequenas gotículas de água no ambiente, de tempo em tempo, mantendo a superfície das folhas molhadas. Esse ambiente é propício ao enraizamento, pois evita a desidratação e o encharcamento das estacas (Figura 10 g).
Após um período de aproximadamente 60-90 dias, dependendo da época do ano, as estacas devem ser retiradas do nebulizador. As enraizadas (Figura 10 h) deverão ser transplantadas para sacos plásticos com 2 a 3 litros de volume em ambiente coberto por uma tela de sombrite (Figura 10 i). Utiliza-se como substrato uma mistura proporcional de solo, areia e matéria orgânica. As mudas irão se desenvolver e quando estiverem com 40-50 cm de altura, poderão ser plantadas no campo (Figura 10 j, k). A Figura 10 l mostra uma planta adulta originária de muda produzida por estaquia.
Para que o viveirista obtenha estacas de ramos o ano inteiro para a produção das mudas, é importante que o lote de plantas matrizes seja irrigado e que a poda seja escalonada, de tem tempo em tempo, pois só assim obterá os ramos herbáceos apropriados para o enraizamento.

Figura 10
-Planta matriz (a); Preparo da estaca (b, c, d); Estaca pronta (e); Estacas colocadas em vermiculita  (f); Nebulizador (g); Estacas enraizadas prontas para o transplantio (h); Estacas transplantadas em sacolas (i); Desenvolvimento inicial da muda (j); Mudas prontas (k); Planta adulta (l)


Lichieira
A lichieira (Litchi chinensis Sonn.) é originária da China, onde é cultivada há muitos séculos. No Brasil, é uma fruteira exótica com grande potencial na diversificação dos pomares, principalmente pelo aumento da demanda no mercado varejista e pelo alto preço da fruta. São Paulo e Minas Gerais destacam-se como os principais estados produtores.
O método mais utilizado para a propagação da lichieira é a alporquia, com até 90% de enraizamento. É importante que várias plantas sejam selecionadas como matrizes para essa prática, pois a obtenção de um grande número de mudas a partir de uma única planta pode causar enormes danos à mesma.
Os ramos escolhidos para a alporquia devem estar maduros, em posição fácil para o trabalho, situados na periferia da planta, e possuir diâmetro médio de 1,5 a 2,5 cm, e 45 a 60 cm de comprimento, com folhas no ponteiro.
Primeiramente escolhe-se uma região limpa do ramo e faz-se um anelamento na casca, de aproximadamente dois centímetros de comprimento, retirando-a e expondo o lenho. Então cobre-se essa região exposta com substrato úmido, à base de fibra de coco e amarre-a com um saco plástico para evitar a perda de umidade. Assim, tudo que for produzido nas folhas será deslocado para essa região, inclusive as auxinas, que são hormônios endógenos da planta que não serão degradadas pela luz, na parte coberta, promovendo o enraizamento (Figura12 e Figura 13 a, b, c, d).
Durante o período de enraizamento o alporque deve ser mantido sempre úmido. Na lichieira, o período para enraizamento dos alporques pode variar

de 60 a 90 dias, dependendo da época em que for realizado.
Quando se observa a formação de raízes com coloração alterada de branco para marrom cremoso, o alporque já está pronto (Figura 13 e). Uma vez enraizado, o ramo deve ser separado da planta matriz, utilizando uma tesoura de poda que fará o corte abaixo do plástico. Na seqüência, são eliminadas cerca de 75% das folhas com o objetivo de reduzir a taxa de transpiração.
As novas mudas são então plantadas em sacos plásticos com dimensões de aproximadamente 17 x 35 cm, tomando o cuidado de não danificar as raízes. Após o plantio, essas mudas devem ser mantidas em ambientes quentes, sombreados, com alta umidade e protegida de ventos. O recomendado
é deixá-las aproximadamente 15 dias em câmara de nebulização intermitente para que ocorra a estabilização das raízes nos saquinhos e a sobrevivência das mudas. Após esse período, inicia-se o crescimento das novas brotações, até as mudas estarem prontas para serem plantadas no campo (Figura 13 f). A Figura 13 g mostra uma planta adulta originária de muda produzida por alporquia.
A prática da alporquia em lichieira pode ser realizada em qualquer época do ano, desde que haja umidade e temperatura suficientes.


Figura 12 - Anelamento do ramo e retirada da casca (a, b, c, d); Amarração do plástico no ramo (e, f,

g, h); Colocação de substrato à base de fibra de coco úmido (i, j, k).

Figura 13 - Cobertura do substrato úmido com plástico e amarrio (a,b,c,d); Alporque enraizado (e);

Muda pronta (f); Planta adulta (g)


Bibliografia:
Adaptado de http://www.esalq.usp.br/svcex/

Poda de Árvores Frutíferas

http://www.esalq.usp.br/svcex/